A frase “só sei que nada sei” é atribuída a Sócrates, mas não há registro dela. A origem encontra-se na declaração da sacerdotisa do
templo de Delfos, onde diz que dentre os atenienses, Sócrates é o mais sábio. Este
fica perplexo porque não tem teoria alguma, tal como Heráclito (c. 500 a.C.),
Parmênides (c. 515-445 a.C.) ou os atomistas Leucipo (c. 450-420 a.C.) e
Demócrito (c. 460-371 a.C.).
Para construir o seu conhecimento, Sócrates questiona as pessoas que julga serem mais sábias do que ele, e descobre a controvérsia: eles pensavam que sabiam o que não sabiam.
Sócrates faz, então, a seguinte reflexão, depois de conversar com um deles: “Sou,
sem dúvida, mais sábio que este homem. É muito possível que qualquer um de nós
nada saiba de belo nem de bom; mas ele julga que sabe alguma coisa, embora não
saiba, ao passo que eu nem sei nem julgo saber. Parece-me, pois, que sou algo
mais sábio do que ele, na precisa medida em que não julgo saber aquilo que
ignoro”. (Apologia, 21 d) É desta
passagem da Apologia que
nos chegou a expressão “só sei que nada sei”.
O sentido filosófico da frase refere-se à ignorância. “Só sei
que nada sei” é uma espécie de tomada de consciência da ignorância. A reflexão
sobre este assunto é útil, pois nos chama a atenção à humildade diante de
qualquer conhecimento. Podemos saber muito, mas há muito mais a explorar. É isso
que Sócrates procura nos advertir quando procura uma pessoa entendida num
determinado ramo do saber. Depois de várias perguntas, o interlocutor
acaba se contradizendo. Quer dizer, o interlocutor pensa que sabe, mas não sabe.
Um pouco de lógica. Em lógica formal, se você realmente não sabe nada, então não poderia ter certeza de absolutamente nada — nem mesmo de que não sabe. Mas aqui, “sei” não é literal no sentido absoluto; é usado para expressar um nível de consciência sobre a própria ignorância. Assim, o “paradoxo” é mais retórico do que uma contradição lógica insolúvel. Ele funciona como uma provocação filosófica. Para evitar o paradoxo, basta reformular a frase de forma que não haja contradição lógica entre “saber” e “não saber”. Em vez de "sei que nada sei", dizer: “Acredito que sei muito pouco.” “Tenho consciência de que meu conhecimento é limitado.” “Sei que o que sei é pouco diante do que há para saber.”
A manutenção do paradoxo é muito útil. O “choque” lógico obriga a pensar: se a pessoa “sabe” que “não sabe”, então há um tipo de saber que nasce da consciência da ignorância. Esse é o paradoxo fértil: o conhecimento começa quando reconhecemos o que não sabemos. No fundo, o paradoxo só existe porque a frase, tomada literalmente, se autonega. Quando deixamos claro que se trata de limitação, não de ausência total de saber, ele desaparece.
Tenhamos sempre em mente a nossa limitação. Reconheçamos, com Sócrates, que a humildade intelectual e o reconhecimento da própria ignorância são os alicerces, os fundamentos para alcançar a verdadeira sabedoria.
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