A ética, na maioria das vezes, mostra-nos proibições e
regras, em que se estabelecem limites e padrões de comportamento, seja no âmbito
profissional, social ou pessoal. Elas ajudam a definir o que é aceitável e o
que não é. Do ponto de vista de Aristóteles, a ética não é um sistema de
proibições e regras que nos dificultam a vida; pelo contrário, é o que nos
permite ter uma vida boa.
Em sua ética, Aristóteles tratou do Bem Último, que se fundamenta
naquilo valorizamos — por si mesmo ou por qualquer outra coisa. Observa o
dinheiro: só irrefletidamente poderá ser valorizado por si; uma
pessoa refletida valorizará o dinheiro apenas instrumentalmente, porque permite
obter outras coisas que valorizamos. A felicidade é algo que não valorizamos
instrumentalmente e que, se a tivermos, nada nos falta; Aristóteles conclui que
a felicidade é o bem último que procurávamos.
O guia educativo de Aristóteles está centrado na doutrina
do “justo meio” (mesótes),
segundo a qual a virtude está no equilíbrio entre dois extremos: o excesso e a
falta. A coragem, por exemplo,
poderia ser vista da seguinte forma: no excesso, temos a imprudência; na falta,
a covardia. Vejamos outros exemplos: Temperança [Falta
= Insensibilidade; Excesso = Intemperança]; Generosidade [Falta = Mesquinhez; Excesso
= Prodigalidade]; Mansidão [Falta
= Apatia; Excesso = Ira excessiva]; Amizade [Falta
= Frieza; Excesso = Adulação]; Orgulho [Falta
= Humildade servil; Excesso = Arrogância].
É um erro atribuir a Aristóteles de que no meio é que
está a virtude. Aristóteles não pensa nem que em todos os casos há um meio, nem
que a sua teoria tenha por missão estabelecer esse meio. Eis o que defende
Aristóteles: “A virtude é um estado que envolve escolha racional, consistindo
num meio-termo relativo a nós e determinado pela razão […]” (Ética Nicomaqueia, 1106b-1107a) Como
vemos, a virtude consiste num meio-termo relativo a nós, o qual é determinado
pela razão. Eis o cerne da questão.
A ideia de usar "meio-termo" em vez de
apenas "meio" tem sentido em português moderno, porque
“meio-termo” já é uma expressão consagrada para indicar moderação ou
equilíbrio. Vejamos duas frases adaptadas do assunto: 1) "A virtude está
no equilíbrio." — simplifica e transmite a ideia central; 2) "A
virtude está no meio-termo." — preserva a imagem dos extremos e o
sentido prático.
Em síntese, viver virtuosamente, segundo Aristóteles, seria evitar
os extremos e buscar o ponto de equilíbrio apropriado a cada situação, de
acordo com a razão.
Fonte de Consulta
MURCHO, Desidério. Sete Ideias Filosóficas: Que Toda a Gente Deveria Conhecer. Editorial Bizâncio, 2011.
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