14 agosto 2025

No Meio é que Está a Virtude

A ética, na maioria das vezes, mostra-nos proibições e regras, em que se estabelecem limites e padrões de comportamento, seja no âmbito profissional, social ou pessoal. Elas ajudam a definir o que é aceitável e o que não é. Do ponto de vista de Aristóteles, a ética não é um sistema de proibições e regras que nos dificultam a vida; pelo contrário, é o que nos permite ter uma vida boa.

Em sua ética, Aristóteles tratou do Bem Último, que se fundamenta naquilo valorizamos — por si mesmo ou por qualquer outra coisa. Observa o dinheiro: só irrefletidamente poderá ser valorizado por si; uma pessoa refletida valorizará o dinheiro apenas instrumentalmente, porque permite obter outras coisas que valorizamos. A felicidade é algo que não valorizamos instrumentalmente e que, se a tivermos, nada nos falta; Aristóteles conclui que a felicidade é o bem último que procurávamos. 

O guia educativo de Aristóteles está centrado na doutrina do “justo meio” (mesótes), segundo a qual a virtude está no equilíbrio entre dois extremos: o excesso e a falta. A coragem, por exemplo, poderia ser vista da seguinte forma: no excesso, temos a imprudência; na falta, a covardia. Vejamos outros exemplos: Temperança [Falta = Insensibilidade; Excesso = Intemperança]; Generosidade [Falta = Mesquinhez; Excesso = Prodigalidade]; Mansidão [Falta = Apatia; Excesso = Ira excessiva]; Amizade [Falta = Frieza; Excesso = Adulação]; Orgulho [Falta = Humildade servil; Excesso = Arrogância].

É um erro atribuir a Aristóteles de que no meio é que está a virtude. Aristóteles não pensa nem que em todos os casos há um meio, nem que a sua teoria tenha por missão estabelecer esse meio. Eis o que defende Aristóteles: “A virtude é um estado que envolve escolha racional, consistindo num meio-termo relativo a nós e determinado pela razão […]” (Ética Nicomaqueia, 1106b-1107a) Como vemos, a virtude consiste num meio-termo relativo a nós, o qual é determinado pela razão. Eis o cerne da questão.

A ideia de usar "meio-termo" em vez de apenas "meio" tem sentido em português moderno, porque “meio-termo” já é uma expressão consagrada para indicar moderação ou equilíbrio. Vejamos duas frases adaptadas do assunto: 1) "A virtude está no equilíbrio." — simplifica e transmite a ideia central; 2) "A virtude está no meio-termo." — preserva a imagem dos extremos e o sentido prático.

Em síntese, viver virtuosamente, segundo Aristóteles, seria evitar os extremos e buscar o ponto de equilíbrio apropriado a cada situação, de acordo com a razão.

Fonte de Consulta

MURCHO, Desidério. Sete Ideias Filosóficas: Que Toda a Gente Deveria Conhecer. Editorial Bizâncio, 2011.

 

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