17 julho 2022

Cérebro, Mente e Computador

A relação mente-corpo é estudada desde a Antiguidade. Coube, porém a Descartes a primazia de levantar o problema com mais ênfase. Em seu dualismo, afirma que a mente (res cogitans) e o corpo (res extensa) são formados de substâncias distintas, mas que ainda não tinha descoberto como uma é ligada a outra. Aventou a hipótese de a glândula pineal ser o intermediário. Contudo, mais tarde, dissera que o importante é saber que são distintos e isto basta.

O materialismo, oferecendo-nos uma série de dificuldades conceituais, contrapõe-se e abandona o dualismo cartesiano. Alguns pensadores materialistas, inspirando-se na lei de Leibniz, advogam a identidade entre cérebro e mente, ou seja, cérebro e mente não são distintos como afirmara Descartes, eles fazem parte da mesma substância. Como dão valor à matéria e não ao espírito, dificultam o entendimento da mente e da sua relação com o corpo, inclusive, chegando alguns a afirmar que a mente não existe porque a Psicologia não a definiu.

O surgimento do computador, e sua evolução através do tempo, trouxe como consequência mudanças radicais em todos os níveis de conhecimento. Física, Química, Biologia etc. A Filosofia da Mente, uma área aparentemente díspar da teoria computacional, também sofreu influência, principalmente através dos modelos computacionais em que se procura relacionar o software (programa de computação) com o hardware (a máquina), comparando-os com o relacionamento entre mente e cérebro.

A teoria computacional retoma as posições radicais entre o materialismo e o dualismo, procurando achar o meio termo entre ambas. H. Putnan, em “Minds and Machines”, artigo escrito em 1975, procura estabelecer uma correlação entre estados mentais (pensamentos) e software de um lado e entre os estados cerebrais e o hadware ou os diferentes estados físicos pelos quais passa a máquina ao obedecer as instruções. Esta teoria não esteve isenta de críticas. A principal delas é que a máquina é geral e não permite a individuação própria de cada mente humana.

Numa versão moderna, temos o funcionamento neuro-computacional ou conexionismo iniciado com os trabalhos de Von Neumann. Pretende-se, com esse sistema computacional, resolver a questão da individuação deixada no modelo de Putnan. De Acordo com esta teoria, estabelece-se uma relação específica entre o software e o hardware. Não há independência entre o software e o hardware e as características do design deste tipo de máquina permitem que, no limite, possamos conceber que cada estado mental (ou de software) corresponda a um estado cerebral (ou de hardware).

A teoria computacional deu novo dinamismo à pesquisa da mente, contudo o problema da ligação mente-cérebro ainda está por resolver. Falta-lhes a noção de PERISPÍRITO, elo entre a matéria e o espírito.

Fonte de Consulta

TEIXEIRA, J. de F. Filosofia da Mente e Inteligência Artificial. Campinas, UNICAMP, Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência, 1996. (Coleção CLE; v. 17)

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