Começa por situar a semelhança entre a comédia de
Aristófanes e o relato platônico sobre o processo de Sócrates na Apologia. Primeiramente,
os termos de acusação. Tanto num quanto no outro, o filósofo é acusado de não crer
nos deuses da cidade e de corromper a juventude. Nas Nuvens, o relato é o
mesmo, mas com a vantagem da teatralização. No teatro, Sócrates morre por asfixia pelo fogo;
na Apologia, por ingestão de cicuta.
Detalhe: entre a primeira apresentação da peça (423) e o
julgamento (399) passaram-se 24 anos.
Na Apologia,
Sócrates explica as causas de suas insistentes interpelações na cidade pela necessidade
de pôr à prova o oráculo de Delfos, que dizia ser ele o mais sábio de todos os
homens de Atenas. A conclusão que ele chega é que ele era o mais sábio porque
ele tinha a consciência de sua ignorância e, por isso, nada podia ensinar.
O Sócrates de A
República. O diálogo situa-se entre anos 421 e 420. Sócrates tem 50 anos. Este
Sócrates não teria duvidado do oráculo: ele assume-se como verdadeiro sábio,
portador da verdade absoluta. Ele sabe e, por isso, ensina. Ele sabe o que é o
bem e o justo. O seu modelo baseia-se nos três aspectos da alma: racional,
irascível e concupiscente. Daí, a cidade deverá ser constituída de três classes
incomunicáveis, a dos filósofos-reis, a dos guardiões e a do povo.
Há, contudo, filósofos legítimos e filósofos bastardos, e
os últimos representam perigo para a cidade, e que será preciso livrar a cidade
da sua má influência. “Platão, pela boca de Sócrates, assegura que, se os filósofos
legítimos fossem chamados a ordenar uma cidade em conformidade com os padrões divinos,
que só eles conhecem, não aceitariam fazê-lo
‘antes de a receberem limpa ou de a limparem eles’”.
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