Arrependimento.
Angustiante reconhecimento da culpa. É um
sentimento de pesar ou remorso que surge quando uma pessoa acredita que cometeu
uma ação errada ou fez algo que não deveria ter feito. Percepção de que a
escolha teve repercussões negativas para si mesma ou para outras pessoas. Pode ser
em relação ao passado como ao futuro (decisões adiadas e, caso tivessem sido
tomadas, os resultados poderiam ser completamente diferentes).
Nas 95 Teses, documento escrito por Martinho Lutero (1483-1546) que questionava práticas da Igreja
Católica, especialmente a venda de indulgências, e afixada, em 31 de outubro de 1517, na porta da
Igreja do castelo de Wittenberg, há alusão ao arrependimento verdadeiro,
ou seja, o perdão dos pecados vem do arrependimento sincero, não de pagamentos.
Lutero abre as teses afirmando que o arrependimento verdadeiro é uma mudança
contínua de vida, não algo que pode ser resolvido com um simples pagamento ou
ritual.
Para a religião, a liberdade identifica-se com o sacrifício. As
propostas são de renúncia à própria personalidade, de obediência à vontade de
Deus e de arrependimento pelas más ações cometidas. Procedendo desta forma,
vivenciaremos plenamente o bem e tornar-nos-emos bem-aventurados no reino dos
céus. Lá receberemos as recompensas pelo esquecimento da injúria, pelo perdão
concedido aos nossos ofensores e pela quietude do espírito nas situações
críticas da existência.
Os filósofos estão de acordo em admitir o valor moral do
arrependimento. Espinosa, embora julgue que o arrependimento “Não é uma
virtude, isto é, não deriva da razão” e que, portanto, quem se arrepende é
duplamente miserando e impotente (uma vez porque agiu mal e depois porque se
aflige com isso), reconhece que aquele que está submetido ao arrependimento
pode, todavia, a voltar a viver segundo a razão muito mais facilmente do que os
outros. Montaigne, que dedicou ao arrependimento um de seus ensaios mais notáveis,
observara, porém, que o arrependimento não deve transformar-se no desejo “de ser
outro”. (1)
Para Schopenhauer, o arrependimento não
é sobre a vontade mudar (o que é impossível), mas sobre o conhecimento
mudar, levando a pessoa a se arrepender do que fez em vez
do que quis, pois agiu sob falsas noções; ele é uma forma de o
caráter adquirido (o eu) se aperfeiçoar, revelando uma discrepância
entre o querer e o fazer, um tormento que, ao ser reconhecido, pode levar à
negação da Vontade de Vida e à paz interior, mas também pode ser visto como um
sofrimento pela descoberta de sua própria essência imutável. (2)
(1) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
(2) Vista geral de IA
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