O Encheirídion é um termo grego que significa “punhal”, arma portátil ou livro portátil, manual. Consiste num conjunto de apotegmas [ditado breve e sentencioso, que inclui um conteúdo moral que pretende dar uma lição], anotações de Arriano a partir das aulas de Epicteto que, à semelhança de Sócrates e de Jesus, nada deixou escrito.
Epicteto
(55-135) é considerado, ao lado de Sêneca (4-65), Musônio Rufo (25-95) e Marco
Aurélio (121-180), um dos grandes nomes do estoicismo imperial romano. Filho de
uma serva, foi adquirido por Epafrodito, secretário imperial de Nero e
Dominiciano. Em Roma, frequentou a escola de Musônio Rufo. Entre 89 e 94, já exercia
o ofício de filósofo. Após ser expulso de Roma, retirou-se para Nicópolis,
abriu uma escola de filosofia, e logo ficou famoso.
No Manual de Epicteto,
de Flávio Arriano, com tradução do original grego, introdução e notas de Aldo
Dinucci, há 53 instruções e 72 notas. Nessas notas, observa-se o cuidado em
detalhar os termos gregos e sua correta tradução para o português, pois
dependendo do contexto os termos podem apresentar outro significado. Eis alguns
exemplos: enkatreia — o império sobre
si mesmo; karteria — perseverança;
anexikakia — paciência; apaheia — ausência
de sofrimento na alma.
O aspecto relevante deste manual encontra-se na análise daquilo
que está ou não está sob o nosso controle. Entre as coisas que não estão sob o
nosso controle podemos citar os acontecimentos que não dependem de nós [tempo,
vizinho, barulho externo...] como também as opiniões alheias. Estão sob nosso
controle o autoconhecimento, a crítica às apropria opiniões, a conquista de uma
noção de piedade, fruição racional dos prazeres.
O Manual tem uma disposição
prática: não se dedica aos altos voos da filosofia, mas na mudança
comportamental dos seres humanos ante as várias situações que lhe são apresentadas,
tanto as de caráter negativo quanto as de caráter positivo. Cabe a cada um de
nós saber usufruir adequadamente cada uma dessas ocorrências, entendendo-se
que, no final das contas, tudo depende de como vemos o mundo.
Lembremo-nos sempre da passagem socrática — conhece-te a ti mesmo —, pois aí está tudo
de que precisamos para uma vida bem vivida.
ARRIANO,
Flávio. O Manual de Epicteto. Tradução do original grego, introdução e notas
de Aldo Dinucci. Campinas - SP: Cedet, 2020.
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