O mundo medieval surge após o enfraquecimento do
Império Romano. Em meio às invasões de povos bárbaros, como os visigodos,
vândalos, hunos e ostrogodos, e suas consequências, aparece Boécio (480-524) como
o último dos romanos e o primeiro dos pensadores medievais.
A obra de Boécio pode ser dividida em duas partes: 1) como tradutor e
comentador; 2) próprios escritos. Como tradutor, seu objetivo foi a de verter
para o latim as obras de Platão e Aristóteles. A divisão da filosofia em três
partes, a física, a matemática e teologia, que Aristóteles defende em sua Metafísica,
tem grande influência no pensamento de Boécio.
Boécio, citando Aristóteles, tenta obter certa hierarquia entre as
ciências. As ciências físicas, que tratam da matéria, são menos abstratas do
que a matemática. A teologia, por sua vez, trata de algo ainda mais abstrato,
sendo uma disciplina mais elevada dentre as teóricas. Lançando mão das técnicas
de argumentação antigas, Boécio contribuiu não somente quanto ao conteúdo, mas
principalmente com o método para alicerçar as bases da cultura latina
medieval.
Agostinho de Hipona (354-430), famoso pelas Confissões,
livro autobiográfico que descreve as fraquezas do ser humano, foi outro pensador
que marcou o mundo medieval. A grande contribuição de Santo Agostinho foi a de
conceber a fé não como uma fé dogmática, mas também puramente racional. Daí, a
célebre máxima: "Compreendas para crer, creias para compreender".
Agostinho aceita a palavra divina das Sagradas Escrituras. Porém, como a
palavra foi transmitida pelos homens, ela pode conter erros. Há necessidade,
assim, de verificar a fiabilidade do texto, a história e a geografia. Alcançada
a compreensão, o passo seguinte é transmitir a mensagem aos outros. Para isso,
o cristão deve receber orientações quanto à retórica e à dialética. No
tratado A doutrina cristã, expõe as regras para interpretar e transmitir
as Sagradas Escrituras.
A dialética que, segundo Aristóteles, é a arte de bem argumentar, mas
argumentar por meio de inferências válidas e necessárias que, por meio dos prós
e contras, chega a uma opinião, teve grande sucesso durante a Idade Média.
Boécio contribuiu muito para sua difusão. É de Boécio a divisão das artes:
o quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música) e
o trivium (gramática, retórica e dialética). Este modelo
contribuiu muito para a difusão da dialética.
O principal modo de expressão da Idade Média é conhecido como quaestio.
Pedro Abelardo foi seu defensor. De acordo com Abelardo, uma questão tem por
objetivo obter a solução de um problema, cuja origem é a contradição entre as
opiniões de duas ou mais autoridades. Quer dizer, a dúvida acerca de uma tese
pode provir de opiniões opostas, e que teremos de escolher aquela que julgarmos
verdadeira.
Esse método é fruto da leitura de textos consagrados pela tradição e da
constatação de conflitos entre várias passagens.
Assim, os teólogos medievais cristãos não foram pensadores dogmáticos.
Conhecendo a fraqueza das autoridades da época, enalteciam a razão humana para
chegar à verdade.
Fonte de Consulta
STORCK, Alfredo. Filosofia Medieval.
Rio de Janeiro: Zahar, item "Da Roma Antiga ao Mundo Medieval"
Nenhum comentário:
Postar um comentário