Para Comte, o progresso resume-se na sua lei dos três estados: o estado teológico representa a
infância da humanidade; o metafísico, a juventude; e o positivismo, a
maturidade. “A humanidade na sua origem vivia numa condição espiritual
teológica ou fictícia: todo o evento natural era explicado pela intervenção de potências
sobrenaturais mais ou menos numerosas. O nascimento da filosofia na antiga
Grécia sugeriu explicações igualmente abstratas, mesmo se não mais de origem
mítica, tais como a essência, a causa final e outras noções elaboradas pela
metafísica. São todos conceitos que não significam nada, pois tentam somente
explicar a natureza com palavras apropriadas: como dizer que o fogo aquece
porque contém a virtude calorífica ou porque
possui a essência do calor. O terceiro estado,
científico ou positivo, renuncia a colocar-se perguntas sobre a íntima natureza
das coisas, limitando-se, com maior modéstia, mas resultados fecundos, a
individuar as leis que regem o mundo físico”.
Para Marx, a classe burguesa nasce da superação da classe
feudal, dando origem à sociedade capitalista. “Mas, pela lei do devir
dialético, o desenvolvimento do capitalismo comporta o surgimento do
proletariado e das contradições que produzirão a sua superação. A sociedade
comunista não nascerá em consequência de uma tensão ética e utópica, de
pregações moralistas contra os desastres sociais produzidos pela propriedade
privada, mas acabará inevitavelmente por se impor, como única solução possível
do desenvolvimento histórico. Logo, a revolução proletária é absolutamente
inevitável: não é um ato de justiça, porque a classe operária não tem
qualquer ideal a realizar, mas o necessário resultado do devir real da
história. O comunismo não é um ideal ao qual a realidade terá que se conformar,
mas o movimento real que abole o estado de coisas existente”.
Para Darwin, o progresso fundamenta-se em sua teoria da
evolução biológica: o mecanismo da seleção determinaria um avanço,
lento, mas contínuo e progressivo, das formas de vida para estados cada vez
mais complexos e aperfeiçoados. A crítica: “As Coisas não são bem assim: a
natureza não é econômica, mas perdulária, porque desperdiça uma enorme massa de
energia em tentativas evolutivas destinadas ao fracasso; não é nem mesmo
inteligente, porque não faz escolhas, mas persegue todas as soluções possíveis;
não se parece absolutamente com um engenheiro que realiza um projeto, mas
talvez com um funileiro que repara os buracos conforme a necessidade do
momento. Logo, a espécie humana não representa o ponto mais alto de um percurso
orientado, mas somente um dos muitos possíveis resultados da evolução”.
Para Croce, a realidade, mesmo nos seus aspectos mais
multiformes, está toda inserida no interior de um único processo de
desenvolvimento, capaz de unir, reciprocamente, por meio da sucessão de tese,
antítese e síntese, a natureza e o espírito, a matéria e a inteligência. Croce
acha que esse sistema totalizante deve ser rompido em quatro setores distintos:
a arte, a filosofia, a economia e a ética. “Somente no interior de cada um
desses blocos valem as oposições dialéticas hegelianas (belo/feio,
verdadeiro/falso, útil/inútil, bem/mal), mas no exterior, entre os diversos
momentos da espiritualidade, existe apenas a distinção. Cada uma das quatro
formas do espírito, em suma, possui uma dinâmica própria interna e um âmbito
próprio de aplicação não comensurável com as outras. A arte é conhecimento
intuitivo do particular; a filosofia é conhecimento lógico do universal; a
economia é a investigação da utilidade particular; a moral, a busca da
utilidade universal. Porém, distinção não significa incomunicabilidade
absoluta, porque cada um desses momentos condiciona o seguinte. A arte coloca
sugestões à filosofia, as duas artes práticas (economia e moral) são
valorizadas pelo conhecimento acumulado nas artes teóricas (arte e filosofia).
Em resumo: a vida do espírito não se desenvolve em sentido linear, como
imaginava Hegel, mas por meio de uma circularidade entre esses quatro
momentos”.
Para Husserl, a crise da ciência não é interior às
disciplinas específicas. “Se, por exemplo, o estudo da história, como afirma a
ciência positivista, deve limitar-se aos fatos documentáveis, reduzir-se-á a
história inteira da humanidade a uma sucessão cíclica de civilizações que a
cada vez nascem, desenvolvem-se e morrem, sem nem mesmo tentar identificar o
sentido de tal percurso. É verdade que não existe em absoluto um sentido da
história e que qualquer pesquisa de um seu significado último se reduz a uma
interpretação, um ponto de vista condicionado, se não por outra coisa, pela
subjetividade do historiador. Tudo isso é o que o Positivismo procurava evitar,
perseguindo um ideal de impessoalidade e objetividade da ciência; todavia,
observa Husserl, é, em suma, a única coisa que conta, quando não se considera o
estudo da história como uma atividade desligada da vida”.
Fonte de Consulta
NICOLA, Ubaldo. Antologia Ilustrada de Filosofia: das
Origens à Idade Moderna. Tradução de Margherita De Luca. São Paulo: Globo,
2005. (Cópia de textos)
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