Os filósofos, denominados pré-socráticos, como o próprio nome diz,
foram os filósofos que viveram antes de Sócrates. Eles foram os primeiros a
serem reconhecidos como filósofos, no sentido próprio da filosofia, ou seja,
como resultado de uma atividade da razão humana que se defronta com a
totalidade do real. Até então, os conhecimentos eram adquiridos por intermédio
dos mitos. Foram eles que introduziram o comportamento humano mais
acentuadamente racional. Nietzsche resumiu-os na seguinte frase: “Os outros
povos nos deram santos, os gregos nos deram sábios”.
Physis é a palavra-chave para a compreensão da filosofia
pré-socrática. Geralmente, traduzida por Natureza, o que não espelha o seu
verdadeiro sentido. Para os antigos filósofos, a physis refere-se a tudo o que se pode imaginar: os
rios, as estradas, o planeta, o tempo, o ódio, o amor. Martin Heidegger assim
se expressou: “À physis pertencem o céu e a terra, a pedra e a
planta, o animal e o homem, o acontecer humano como obra do homem e dos deuses,
e, sobretudo, pertencem à physis os próprios deuses”.
Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto,
Xenófanes de Cólofon, Heráclito de Éfeso, Pitágoras de Samos, Parmênides de
Eléia, Zenão de Eléia, Empédocles de Agrigento, Filolau de Cróton, Anaxágoras
de Clazomena, Diógenes de Apolônia, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera são
os representantes da filosofia pré-socrática. Nos seus fragmentos e nas suas
poesias estão todo o conteúdo filosófico. Tales de Mileto, por exemplo,
trouxe-nos a ideia de a água ser a substância primeira da matéria.
A grande dificuldade, nos dias que correm, é destacar os
pré-socráticos. A razão é simples: durante muitos anos eles foram esquecidos,
desprezados, tidos como sofistas. E, como é do conhecimento geral, a palavra
sofista tem um conteúdo pejorativo, pois se referia às pessoas que ensinavam
mediante pagamento de salário. Desde que Platão os denominou de falsos
filósofos, nunca mais tiveram respeito. Hoje, devido às pesquisas de alguns
filósofos, começa-se a dar-lhes outra conotação, uma conotação de verdadeiros
filósofos.
A busca da verdade tem este preço: é preciso cavar muita terra.
Observe que para muitos pensadores, a filosofia atual nada mais é do que uma
nota de rodapé de Platão. Isso, porém, não impede que se busquem novas fontes
de conhecimentos. Nesse sentido, libertar a filosofia dos pré-socráticos da
tutela platônico-aristotélica, nada mais é do que escutar o que diziam os
próprios fragmentos, evitando-se visualizá-los através de conceitos
posteriores, e que lhes roubam a sua dimensão original.
Desconfiemos das aparências. A verdade pode estar escondida no
fundo das coisas. Busquemos os fragmentos desses antigos filósofos e
descortinemos novas verdades para a nossa concepção de vida.
Fonte de Consulta
BORNHEIM, Gerd A. (org.) Os Filósofos Pré-Socráticos.
São Paulo: Cultrix, 1993.