De vez em quando, é muito útil verificarmos se a nossa escrita ou os
nossos pensamentos não passam de um blábláblá sem fim. Por blablablá,
entende-se a conversa sem importância, a conversa fiada ou os “ditos
verborrágicos destinados a engabelar a desconfiança”. O blablablá é encontrado,
muitas vezes, nos políticos, nos demagogos e nos sedutores.
Para evitar o blablablá, convém fazer como o filósofo amador, que
transforma o cogito ergo sum, de Descartes, em “escrevo, logo
penso”. Pensar, escrever e ler permite-nos descobrir se aquilo que pensamos é
“bem pensado”. Embora não haja um pensamento original, pois tudo o que pensamos
já foi pensado antes, a apropriação do pensamento alheio, transformando-o em
pensamento próprio, é de grande valia para o nosso exercício filosófico.
Ao escrevermos, não podemos ser tão radicais como os moralistas que,
segundo Joubert, são atormentados pela “maldita ambição de por um livro inteiro
numa página, uma página inteira numa frase e essa frase numa palavra”. Há casos
em que, para nos fazermos entender, o nosso pensamento tem que ser
obrigatoriamente prolixo. O que atrapalha a compreensão de um texto não é
quantidade de palavras, mas a verborragia das palavras vãs que nada acrescentam
ao entendimento de uma questão.
Esses pensamentos foram trabalhados em função do livro: “Sobre o
Blablablá e o Mas-Mas dos Filósofos”, de Fredric Schiffer que, na
Internet, tem o seguinte marketing de venda: “Este ensaio, escrito com pena ágil e petulante,
surpreende os filósofos em alguns de seus pecados mais comuns: o palavrório e o
pedantismo. Armado com o desiludido humor cioraciano, e aguçado por uma lucidez
cara a Clément Rosset (que, aliás, assina o prefácio), Frédéric Schiffer
investe contra os que denigrem as aparências e preferem refugiar-se em alguma
zona inabordável. Ao longo de suas divagações provocativas, reencontramos os
ridicularizados sofistas, o diletante Montaigne, o agudo Baltasar Gracián e
assistimos ao encontro (feliz) de um pensamento e de um estilo”.
Schiffer explica-nos que o blablablá concerne ao campo
dos discursos destinados a entorpecer a desconfiança e o espírito crítico;
o mas-mas (ou afetação), ao campo dos discursos que têm por
vocaçao desvalorizar a vida real em prol da essência. O homem do blablablá enaltece
o irreal, é um charlatão. O homem do mas-mas deprecia o real:
é um pedante afetado.
Em vista do exposto, a quantas andam o nosso pensamento? Estamos
buscando uma certa profundidade ou permanecemos na sua superficialidade?
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