Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592)
nasceu e morreu na França. Seu pai era um rico comerciante de vinho, o qual
teve oportunidade de proporcionar-lhe educação esmerada, sendo que, aos 13 anos
de idade, sabia mais latim do que francês. Montaigne ficou famoso pelos
seus Ensaios, dividido em três livros, escritos de 1580
a 1588. Muitos usufruíram de suas lições. Na lápide de Auguste Collignon,
morto em 1830, aos setenta e oito anos, havia a seguinte inscrição: “vivera
para fazer o bem, tendo haurido suas virtudes nos Ensaios de
Montaigne”.
Toda a filosofia de Montaigne está
condensada no lema socrático: Que sais-je? ("O que é que
eu sei?"), que ele mesmo mandou cunhar numa moeda. Este lema explica-se
pelo ceticismo. Trata a filosofia como um saber presunçoso. "A presunção é
nossa doença natural e original", e a filosofia em seus altos voos
metafísicos, é apenas um produto da vaidade humana. A razão, pensa Montaigne,
não pode alcançar certeza alguma, mas o homem tem de se acostumar a viver na
incerteza, e suportá-la estoicamente.
O objetivo dos Ensaios era
deixar com amigos e conhecidos um retrato mental dele próprio, inclusive com os
seus defeitos, sem método de classificação dos assuntos. Ele dizia: “Não pinto
o ser, pinto a passagem, não a passagem de uma idade a outra, de sete em sete
anos, como diz o povo, mas dia a dia, minuto a minuto”. Partia de si mesmo,
tentando uma generalização do ser humano. Aproveitava o ensejo para combater o
egoísmo e o preconceito que grassava na sociedade.
As suas ideias eram fundamentadas nos
grandes escritores do passado, principalmente Plutarco. Os pensadores estoicos
influenciaram-no sobremaneira. As suas inspirações vinham deles. A sua tese
educativa visava a formação do juízo (particular e moral) mais do que a do juízo
científico. Para Montaigne, a filosofia é a arte de conhecer para aprender a
“viver bem” e a “morrer bem”.
Alguns pensamentos extraídos dos Ensaios:
“Duvidar, negar mesmo, não é deixar de aprender”; “Por diversos meios chega-se
ao mesmo fim”; “As ações julgam-se pelas intenções”; “Nas terras ociosas,
embora ricas e férteis, pululam as ervas selvagens e daninhas, e para
aproveitá-las cumpre trabalhá-las e semeá-las a fim de que nos sejam úteis”;
“Uma mesma linha de conduta pode levar a resultados diversos”; “O homem não
cede a outrem a glória que conquistou”.
Segundo a crítica, Montaigne é um
naturalista sem pretensão, que se compraz nas observações de cada dia. Longe de
ser um estado doloroso da alma, a dúvida é, para ele, o seu estado ordinário,
uma espécie de crepúsculo psicológico cheio de uma forma indecisa, e que gosta
de prolongar porque se sente à vontade, independente e desligado. Quando
suspendia o juízo não era para desanimar as boas vontades: reservava o seu
juízo para momento mais propício, pois nada lhe custava ficar na incerteza.
Cada pessoa é única. Montaigne, por
exemplo, foi o primeiro filósofo a inaugurar os ensaios,
sem classificação alguma. A sua única preocupação era a de registrar a tensão
formada em seu ser em seu pensamento.
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